terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pólis

Megalópole foi projetada para ser uma cidade do futuro, eletrizante e lucrativa como Vegas nos EUA. O porém é que sua invenção se revelou branda demais em planejamento e controle populacional. Depois disso, restou aos seus visionários a tarefa de encontrar um meio de recuperar o seu poder. Quem poderia imaginar tal feito? Nós, guardados em nossas casas?
Os donos de Megalópole se viram um tanto quanto desesperados com as rápidas transformações empreitadas pela globalização. Essa troca imediata de saberes não estava prevista e naturalmente conduziu todo o processo ao fracasso. O primeiro passo para realizar o novo estratagema dos líderes foi levar os recém-chegados à classe abastada a um alheiamento da realidade. Um afastamento completo que seguiria passos minuciosamente calculados no correr de meio século: alienação política, medo da violência, avanço de tecnologias não móveis e móveis de alcance controlado, primeiras experiências no ramo da segurança, afastamento de outros humanos, desligamento de outros seres e da natureza como um todo, aprisionamento completo e alienação total da existência.
20 anos após o sucesso do plano, Megalópole se tornou algo semelhante a aldeias, sendo que cheias de falsa tecnologia. Os seus moradores não tinham a menor idéia do tamanho do mundo. Muitos acreditam que o planeta desabaria em um enorme vazio feito por uma parede digital localizada após o prédio vizinho e não ousavam sair de casa para olhar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Carne da minha carne

Que reencarnação, que nada! Nós, humanos, guardamos informações culturais genéticas de nossas tribos de origem. São informações tão precisas que, no primeiro encontro com um bom número desses genes num só indivíduo, somos capazes de demonstrar imediata empatia. Sim, simpatizo mais com os meus próprios. Num mundaréu de pessoas, continuo vetando os inimigos de meus ancestrais, só de olhar a cor da pele, o cabelo, os olhos, o dedo mindinho, etc. Destruo o outro que descende do inimigo de meus bisavôs, aprovo as tribos vizinhas com quem vez por outra nos casávamos, partilhávamos conhecimento, plantávamos e colhíamos. E é assim que a sociedade continua se organizando, exatamente como no tempo das cavernas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Vida

Interessante, por exemplo, como todos os meses esqueço o destino biológico que me foi conferido para logo ter a lembrança desagradável das dores. Somos todos tão cheios de vida que não conseguimos pensar no que de fato somos: um pedaço frágil de carne. Imaginar que um dia morreremos, então, nem se fala, morreremos todos uma única vez. E é tão fugaz a memória quando fundamentada na observação do que acontece ao outro...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nós, os miseráveis

Hoje em dia, o ser humano é tão miserável que não consegue ter qualquer relação com outro que não implique a questão monetária.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bobagens que colocam na cabeça de garotas

Cada dia que se passa, eu odeio mais nossa cultura machista, que deixa meninas adolescentes desenhando coraçõezinhos no caderno, escrevendo um diário que busca revelar os mais secretos sentimentos, cantando músicas de Justin Biber, assistindo filmes toscos como Eclipse, torcendo para um dia a fantasia virar realidade e encontrar, no primeiro olhar, o amor fulminante de suas vidas. Shit!

sábado, 7 de maio de 2011

CHÃO

Meu coração é grande como as terras do país, com áreas em climas diversos, chãos montanhosos, férteis, secos... No nordeste, com pouca água, terra pedregosa, com um sol que irradia para bons frutos - que não se encontram em qualquer lugar - trabalho para cuidar sempre; em terra roxa, nasce até o que não foi plantado, mas neste chão tenho consciência, fica somente o que eu permitir. Tenho me ocupado quase disciplinadamente a queimar jardins de rosas inúteis, que tanto teimam em brotar. De tudo, sempre guardo um punhado de sementes que um dia jogarei fora ou plantarei em algum outro lugar, deixo guardadas no sótão, presas num pote de vidro. Me dizem que vou arruinar o solo com esse tipo de prática, mas eu mesma não penso nisso, este território tem apenas um dono e não há nada o que dividir.

domingo, 24 de abril de 2011

Lição de física

Restauradas as qualidades do tempo
A ausência de movimento
ensina a falta que a tempestade faz.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Agradeço ao amor

Por tudo o que já ofereceu e ainda é capaz de criar, agradeço. Pelo tempo gasto fora de hora em conversas nas praças com os amigos, principalmente, nos dias em que haviam coisas muito importantes para fazer, isto só prova o quão mais importantes foram aqueles momentos. Agradeço pelo tempo gasto em mesas, de almoços e bares, regados a cervejas e risos, pelo já dito "tempo de qualidade". Agradeço pelo beijo na boca, pelas surpresas e brincadeiras bem intencionadas. Agradeço ao amor pelas gentilezas incutidas nos gestos e palavras mágicas: muito obrigada, sorriso, aperto de mão... Agradeço por provar que a vida é infinita e que há tanto de bom a se fazer. Ao amor, só agradeço e contemplo, principalmente pela esperança que insiste em trazer todos os dias.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Recomeçar

Tento fazer quase tudo certinho, quase tudo que interfere no outro, e vou machucando e sendo machucada mesmo assim. Penso em como poderia ter sido melhor, em quantas coisas poderia ter feito melhor, como poderia ser melhor humano, profissional... Não falo apenas de dez, vinte anos atrás. Como poderia ter sido melhor nisso ou naquilo hoje pela manhã. Fotografia, por exemplo, é uma desgraça para os olhos do fotografado, o passado já era. Refaço os passos dados na memória, fico nessa angústia de tentar encontrar solução do passado no presente. Por conta deste mau costume, às vezes, tenho medo do que possa consumir de tempo. Vício que a vida colocou na cabeça de terminar histórias sempre com final feliz.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sobre a colheita e os frutos

Falando baixo: "vaidade das vaidades, tudo é vaidade...", dizia o Eclesiastes. O mundo olha uma planta frutífera simplesmente para saber se esta tem frutos que interessem, e não se tem frutos interessantes. O faminto que por ela passar, esquece de qual das plantas veio o alimento. É só para isso que servimos ao outro, nada mais. O mundo normalmente é bem feroz em seus julgamentos de bons frutos, mas não é nada pessoal. Todos humanos, fazer o quê.