domingo, 13 de abril de 2014

Do tempo

Não tenho tempo de sentir. Minha vida escorre por entre os dedos, tenho medo de sequer vê-la passar se segurar. Passado é um prisma de sonhos e arrependimentos. Sabendo disso, melhor seria olhar pra trás?! Respiro aliviada pelo hoje. Amanhã, já se sabe, fazer o quê? A dor que atravessa merece tamanha consideração? Mantenho minha simples humanidade e lamento o ocorrido aliviada. Tudo poderia ser perfeito se, com as respostas certas, avançasse na hora H. Me preparo para a próxima passagem do tempo sabendo que existe uma teoria do caos, devagarinho, nem percebo, tudo há de mudar.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Para Terezas

O amor não conhece a morte. Obrigada, Deus!

domingo, 23 de dezembro de 2012

O caçador e o suricate

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
Direi do SENHOR: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.
Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa.
Salmos 91:1-3


Quis o destino que o suricate, andando no meio da mata fechada, se deparasse cara a cara com um caçador. Não havendo qualquer chance de fuga, o pequeno mamífero disse ao provável assassino:
- Sr. caçador, confesso não ter a menor chance contra a corda que segura firme em tua mão esquerda, muito menos contra a arma que guarda na cintura. Sei que somos conhecidos da natureza e que tu vieste até aqui para saciar a fome. Não o condeno por isso, é razoável o predador buscar sua presa e aceito meu destino com dignidade, não irei fugir, tenho consciência de que já vivi muito e de que, segundo a própria biologia, você está acima de mim na cadeia alimentar.
Depois dessa fala, o bichano já foi logo amarrando os próprios braços na corda diante do olhar interrogativo do caçador.
- Que espécie de atitude é essa, amigo suricate? Há décadas que a modernidade eliminou essa categoria. Não estou aqui na floresta com tal objetivo, nem como carne todos os dias, minha alimentação é quase toda à base de vegetais. Para provar a veracidade do que digo, o levarei a um grande banquete por minha conta.
Sem dar mais explicações, mas também sem desamarrar a corda, o caçador seguiu para o seu destino quando foi mais uma vez interpelado pelo animal amarrado.
- Sr. caçador, sei bem que está tentando me manter paciente, mas fale mais sobre o verdadeiro lugar para onde está me levando.
Cansado de tanta questão, respondeu o caçador:
- Diga você pelo que pode ver no percurso...
A fala não poderia ser mais enigmática e deixou o pequeno animal confuso, pois observava que caminhava para um lugar cada vez mais distante, ermo e cheio de brilho da floresta.
Chegando ao local indicado e sem esquecer que era um bicho que falava pelos cotovelos, o suricate perguntou:
- É aqui, portanto, que você me servirá para o jantar?
- Ora suricate, mais uma vez tenho que dizer isto?! Aqui você é meu convidado. Quanta ingratidão a sua. Veja só: "Taberneiro! Sirva-nos duas taças de seu melhor vinho e uma porção de sua melhor carne ao meu companheiro!"
- Senhor, a única carne que dispomos é de herpestidae*.
- Mande essa sim, coloque para ele uma fatia bem gorda.
E o suricate se lambuzou com a deliciosa carne sem saber o que estava no prato.
- Vejo, suricate, que comeste um maravilhoso alimento. Quão saborosa lhe parece a carne da tua família?
- É da minha carne que estou comendo?!
- Não foi a minha intenção, pedi ao taberneiro o melhor bife e ele me trouxe o seu. Fale-me da graça que tem o sabor...
O suricate ficou mais uma vez desnorteado, sentiu vontade de vomitar, antes pensou em soltar as cordas. Ao retornar os olhos para o caçador, viu um animal semelhante a si, de mesma altura e ficou bastante assustado.
- Agora você me vê como eu o vejo, podemos caminhar juntos então.

I.
E o suricate não acreditou na fala do caçador, nem no que viam seus olhos, correu para longe, no que deveria ser o caminho de volta.

II.
E o suricate tomou o facão do inimigo e o atingiu na perna.

III.
E o suricate finalmente entendeu que o caçador era um ilusionista.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Efemeridade

Acordo, dor de cabeça, tomo um banho, faço o café, vômito. Não estou bem. Sento na cama, sopra um vento seco da porta, sinto um tremor no corpo, preciso ir ao banheiro, já não consigo. Encontro o chão. Escuto vozes, mexer-me é impossível. Passa o momento. “Eu te amo!”, brota uma lágrima. Sonho ruim. Não estou em casa. Vieram me ver, muito tempo numa mesa, mais uma pontada. "Que dor, que fundo!”. Agora sem sensação, melhor assim. De novo uma mão me segura, mais vômito, é encarnado. Mais dor, respiro fraco, tubo na garganta. Vazio... Sinto frio, mexo os pés, melhor sair. De novo convulsão, para o coração, correria. Aceno pra criança de cima de uma nuvem.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ritual

Tatuada, Alma em polvorosa, Consciência sem cor. Eu que me prepare, Em doses de guerra, não existe amor.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tempo de consciência

Quando criança,
me disseram,
tempo bom é fugaz.
Hoje sei, amigo tempo,
que o bom tempo
sei se vai.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Árvores

Todos dizem que Megalópole é um lugar lindo. Lá não temos plantas. Mas óculos especiais nos permitem a múltipla sensação de vê-las, ouvi-las e tocá-las. Um chip nos permite conhecer cheiros e sabores das frutas. Quem precisa de árvores com insetos? Elas são tão imprevisíveis, não combinam com a decoração e ocupam tanto espaço... Para mim, havia um encantamento em observar as folhas das árvores, tenho a sensação de orfandade quando vejo as novas imagens. Tudo, apesar do esforço, parece claro e irreal. Digamos que a tecnologia natural está mais avançada.
No ano 2050, médicos aprovaram cápsulas balanceadas de alimentação para toda a população, não há obesos,também são poucas as doenças, apesar de que, no começo, a redução brusca do abdômen acabou matando algumas pessoas. Os jovens desconhecem o que é alimento natural, nos tratam como antiquados quando há quem faça tal citação. O importante é que podemos tudo, dentro da lei. Alguns podem mais, não conheço os outros prédios.