sábado, 11 de dezembro de 2010

Canção do exílio em Timor

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam,
É claro que não gorjeiam como lá.

Esse céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores.
Nossas flores têm mais vida,
Mas não temos mais amores.

Quisera Deus que eu viva,
Morra ou até volte para lá.
Que eu seja como a gaivota
E também como o sabiá.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Adoro esse poema!

LIBERDADE

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

domingo, 1 de agosto de 2010

Palavra indevida

Estou muito triste por concluir que inteligência é não olhar para os lados, olhar pouco para dentro e muito para frente. Se inteligência fosse olhar para os lados, veria claramente como estão meus companheiros e os ajudaria quando precisassem, o mesmo, é claro, por fé, também aconteceria comigo. Se fosse olhar para dentro, saberia o que de fato me afeta e não me machucaria mais com pequenas coisas da vida. Mas inteligência é olhar para frente como um animal de carga. Caminhar sem parar, sem pensar... A vida, infelizmente, pede que eduque meu comportamento.